quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ensaio Filosófico

O espiritismo é uma religião de caráter filosófico, religioso e científico. Surgiu como religião no século XVIII, com o caso das irmãs Fox, nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo. Porém, está presente na humanidade em diversos cultos e crenças desde a origem humana, exemplificando isto a existência de profetas na antiguidade onde previam o futuro através de sonhos e visões. Outro exemplo clássico da existência de parte da crença espírita se encontra na Bíblia, com o sonho de Maria: nele, o arcanjo Gabriel –um espírito evoluído - apareceu e lhe contou sobre a vinda do menino Jesus.
O Espiritismo também prega o desapego material e aceita outras religiões, embora veja hipocrisia em muitas destas, principalmente em relação ao dinheiro. Além disto, o Espiritismo crê na vida em outros lugares do universo, ao contrário da maioria das religiões. Outras diferenças do espiritismo são a ausência de rituais, hierarquia e tradições, e é exatamente sobre essas e outras diferenças que vamos falar agora.

Se eu morrer antes de você...

Para início de conversa: uma das mensagens de Chico Xavier.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Entrevista com Dallessandro Bence Sant'Ana Rodrigues








Sábado, dia 10 de maio de 2008, 14h30minh aproximadamente, fomos ao Centro Espírita Ismênia de Jesus. Já havíamos combinado com Dallessandro Bence Sant’Ana Rodrigues de lhe fazermos algumas perguntas sobre o Espiritismo, já que foi Presidente do centro por um tempo e é monitor da equipe de Doutrina – um estudo sobre o Espiritismo que ocorre semanalmente.
Dallessandro tem 31 anos e se interessou pelo Espiritismo aos 16 anos, pela influência dos pais espíritas.


1) Muitas pessoas falam que o Espiritismo é uma religião, mas na verdade é uma Doutrina. Isso é correto?

Dallessandro: Pela doutrina dos espíritos, ou seja, Espiritismo, “ismo” seria doutrina ou sistema dos espíritos, então Espiritismo. Tais como Cristianismo, Budismo, etc. A Doutrina Espírita é uma Doutrina de Tríplice aspecto: tem sua base filosófica, cientifica e religiosa e não possui hierarquias nem dogmas. É uma doutrina extremamente educativa, mas tem em sua base a religião, aliás, Allan Kardec, na revista espírita de 1868, precisamente no mês de dezembro, faz um texto belíssimo sobre religião, a começar pela etimologia da palavra: religião vem do latim religiare, que é se religar a Deus. Então qualquer filosofia que tende a se aproximar de Deus, tem em suas bases uma religião.


2) Sobre a história do Espiritismo, qual é a sua origem?

Dallesandro: O Espiritismo surgiu nos EUA pelos fenômenos mediúnicos em Hindisville, de acordo com as jovens chamadas Fox: elas começaram a escutar batidas em várias partes de sua casa, até que fizeram perguntas e as repostas vinham em tom de batidas. Mais tarde se espalhou para o mundo todo, centrando a sua visão, principalmente na Europa, quando Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec era seu pseudônimo para diferenciar seus livros didáticos dos livros Espíritas) é convidado, precisamente no ano de 1855, pelo seu colega Fortie a ver os fenômenos mediúnicos em Paris, que seriam as mesas girantes. Então, Allan Kardec começa a fazer as seguintes reflexões, já que ele tinha em sua base filosófica a ciência: se para todo efeito existe uma causa, um efeito inteligente tem origem uma causa inteligente. Como uma mesa, que não é constituída de células e nervos, pode dar respostas inteligentes? E foi aí que ele pesquisou e vieram todas as informações dos espíritos superiores. Mais tarde, ao fundar a Sociedade de Estudos Parisienses, no ano de 1858, exatamente no dia 1º de abril, ele vai receber de várias partes do mundo, psicografias, mostrando para todos nós, que sempre houve, perante a humanidade, um conceito de mediunidade: a intervenção do mundo espiritual perante a gente, a gente perante o mundo espiritual. É só ler a Bíblia que vamos encontrar vários fenômenos mediúnicos, tais como os sonhos, onde vai aparecer o anjo Gabriel para Maria enunciando a vinda de Jesus, e outras passagens belíssimas. Então, a faculdade mediúnica em si, desde que o ser humano existe como ser encarnado, sempre existiu.


3) Então Allan Kardec não é fundador, é codificador?

Dallessandro: Por isso que ele é codificador, exatamente. É você pegar informações e somar todas as informações numa base filosófica. Daí a palavra codificador, e não fundador. Por isso que ele coloca Doutrina dos Espíritos, estando errado quando algumas pessoas falam Kardecismo. Etimologicamente falando seria a Doutrina de Kardec, e Kardec não criou Doutrina nenhuma. Então estão errados os termos Kardecismo e Kardecista. O correto são os termos Espiritismo e aquele que segue o Espiritismo serão o espiritista ou espírita.


4) Qual é a fundamentação do Espiritismo?

Dallessandro: No geral o Espiritismo acredita em leis, leis demonstrando sabedoria e misericórdia. Então, por exemplo, acredita num Deus único. Quais seriam os atributos de Deus no nível de evolução que estamos e que podemos entender? Deus seria onipotente, oni do grego, todo poderoso. Deus seria misericordioso e bondoso, e isso o Espiritismo consegue justificar pelo conceito de livre-arbítrio, pluralidade das existências, enquanto outras doutrinas espiritualistas que acreditam num Deus único não conseguem demonstrar, filosoficamente falando, porque esse Deus é de misericórdia e bondade, pois acreditam em uma só existência. Ora, como Deus pode ser bondoso e misericordioso para todos os seus filhos se só há uma existência? Então estarei fardado a ficar eternamente, por exemplo, no inferno, como alguns irmãos acreditam porque se baseiam nas palavras que os olhos de Deus estão em toda parte. Bom, se os olhos de Deus estão em toda parte, estariam no inferno. Estando no inferno, ele não teria misericórdia perante seus filhos, que vêm em sofrimento? Então a Doutrina Espírita justifica um dos atributos de Deus, que é misericórdia e bondade, e tem outros, que estão contidos no Livro dos Espíritos, na pergunta número 13: onipotência, Deus é único, imaterial, ou seja, Deus não tem uma forma - não há nenhuma doutrina antropomórfica, Deus em forma de homem.








5) O Espiritismo aceita outras religiões?

Dallessandro: Allan Kardec deixa bastante claro, não só no Livro dos Espíritos, ao perguntar aos espíritos superiores, mas depois no Evangelho segundo o Espiritismo, no capitulo 13, quando ele vai salientar se era lícito nós ajudarmos aquelas pessoas que não pensam como nós, e a resposta dos espíritos superiores foi que sim. Aquele que é espírita, ou seja, aquele que é cristão vê irmãos em toda a parte. Então em nenhum momento o Espiritismo fala mal das outras religiões, porque o Espiritismo segue as orientações de Jesus, e o maior mandamento deixado por Jesus, quando ele foi tentado pelos fariseus, foi: “Amarás a Deus de coração à alma e entendimento e a teu próximo como a ti mesmo”.






6) Há no Catolicismo o ritual de batismo, 1ª Comunhão, entre outros. Há também uma hierarquia entre o Papa, bispo, padres, etc. Quais são a hierarquia existente e os rituais espíritas?

Dallessandro: O Espiritismo é destituído de rituais e hierarquias. Na pergunta 115 do Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se os espíritos seriam criados maus. A resposta: não. Deus criou todos os seus filhos ou filhas simples e ignorantes, dando a eles as mesmas chances, e através do livre-arbítrio, ele vai pelo caminho do bem ou pelo caminho do mal.


7) Por que os espíritas não estudam a Bíblia?

Dallessandro: Pelo contrário. O Espiritismo tem embasado as suas propostas, a sua Doutrina, os seus fundamentos, nas passagens de Jesus que se encontra na Bíblia. A Bíblia, etimologicamente falando significa livros, e lá há vários livros que se encontram no velho testamento, e os livros do novo testamento, que são os evangelistas pelas palavras de Jesus. Então, a Doutrina dos espíritos não só segue o que tem muita coisa já escrita no velho testamento, mas principalmente as coisas escritas, deixadas por Jesus. Então nós seguimos a Bíblia.









8) Qual a visão do Espiritismo nos seguintes temas:

- Métodos anticoncepcionais?

Dallessandro: A Doutrina Espírita é a favor de qualquer coisa que a ciência possa colaborar não só na sustentação da vida, mas como na prolongação da vida. Então, na década de 70, perguntaram a Francisco Candido Xavier sobre as pílulas anticoncepcionais, porque estavam surgindo no mundo, no aspecto cientifico, e ele deixa bastante claro que se assim o ser humano pode utilizar para a própria manutenção da sua vida, no caso as mulheres, nada mais coerente em usar. A nosso ver, que não somos médicos, quando a gente dá a ênfase à pílula anticoncepcional jogamos toda a informação para a mulher. Então como vivemos numa sociedade machista, como a brasileira, deveria ter também a pílula anticoncepcional dos homens, aí haveria um equilíbrio, já que os direitos devem ser iguais. Então quando só jogamos para a mulher, fica a imagem de que só a mulher deve zelar pelo seu corpo físico, ou seja, zelar também para vir um espírito, e não. A gente sabe que é um trabalho de dupla, os dois são importantes, tanto o pai quanto a mãe.


- E no caso do aborto, também cabe aos dois?

Dallessandro: Sim, pela doutrina dos espíritos, como a vida é criada por Deus, nós não temos o direito nem de tirarmos a nossa vida, muito menos tirar a do próximo. No caso do aborto, fica implícito à mãe no caso, que está colhendo no seu útero, que é a câmera de materialização do espírito, a atitude de ir contra a vida que não é dela. Então, por isso que a doutrina dos espíritos no quesito aborto, vai elucidar que somente em casos, Allan Kardec deixa claro isso no Livro dos Espíritos, que entre a mãe e a criança é preferível zelar pela mãe, porque a mãe terá como fonte, que seria o útero, a oportunidade daquele mesmo espírito vir e reencarnar. Então, no período de Kardec, século XIX, já havia um grande avanço científico, uma visão bem abrangente.





- Divórcio?

Dallessandro: Está no Evangelho segundo o Espiritismo, publicado em 1864, a questão do divórcio e Allan Kardec já deixa claro que se as pessoas que estão envolvidas num relacionamento não podem dar mais continuidade, é preferível que permaneçam amigas com cada uma seguindo seu percurso, do que manterem-se unidas com um relacionamento ruim. Então, a Doutrina deixa claro que o divórcio é natural, já que antes de chegar o divórcio, já tentaram várias vezes dialogar e não chegaram a um consenso.


- Com esses debates sobre células-tronco, queríamos saber quando começa a vida.

Dallessandro: Isso Kardec já pergunta no Livro dos Espíritos, não me recordo qual é a questão, se é a 393 e a resposta dos Espíritos da Verdade foi que na concepção já haveria ali uma ligação entre o espírito e o embrião. Então quando a gente enxerga um embriãozinho, embora seja minúsculo, tenha que usar um microscópio, há ali um espírito, que aos olhos humanos não se consegue ver. Então seria nessa visão que a gente já poderia defender a vida. A vida existe antes de ter o corpo físico.


- E sobre a eutanásia?

Dallessandro: Kardec também, no Evangelho segundo o Espiritismo, faz uma pergunta se era louvável nós abreviarmos a vida de uma pessoa que está, vamos dizer, num estado deplorável. E deixa claro os benfeitores espirituais que Deus é que sabe de suas leis. Ou seja, quem garante que em momentos próximos àquilo que a gente chamaria de morte, não voltaria o espírito em ação? Então há casos na literatura mundial de várias pessoas que ficaram em coma por mais de 10, 20 anos e retornaram à vida. Somente no plano espiritual que conseguimos ver a história daquele espírito que está encarnado, e que nós saberíamos responder por que ele está passando por aquilo, que as nossos olhos materiais, a gente chama de um processo vegetativo. Mas a alma existe, então a vida espiritual é mais abrangente. Assim como nós dormimos, embora as vezes não lembramos o que fizemos no sono, há espíritos que conseguem ir a colônias espirituais, escutar palestras, outros conseguem ir para centros de pesquisa. Grandes inventores, em pontos distantes do planeta Terra, inventaram coisas ao mesmo tempo, mas antes deles inventarem eles já trocavam experiências no mundo espiritual. É aquilo que Kardec deixa bem caracterizado no começo do Livro dos Espíritos que o mundo primitivo e verdadeiro é o mundo espiritual, e o mundo transitório e secundário é o mundo físico. E é esse sentimento que, nós os espíritas, devemos desenvolver. Estamos de passagem. Não somos do mundo, estamos no mundo.





- Suicídio?

Dallessandro: Suicídio está implícito você tirar a sua vida. Como a vida não é sua, você foi criado por Deus, ele te deu uma vida que começa lá atrás, você como princípio inteligente. Vai se desenvolvendo até você chegar ao grau de Espíritos Puros. Uma melhor visualização disso é a questão 100 do Livro dos Espíritos, onde Kardec coloca a categoria dos Espíritos. Então no caso do suicídio, eu estou tirando a minha vida orgânica, não a minha vida espiritual. Ora, se não fui eu que criei essa vida orgânica, foram as próprias leis materiais que se encontram no planeta na qual estamos encarnados, por que eu iria tirar algo que não é meu? Então suicídio é uma transgressão às leis divinas porque eu estaria desprezando uma oportunidade de aperfeiçoar, não só o lado intelectual, mas aperfeiçoar o lado moral. É a finalidade de reencarnarmos.

- É verdade que suicidas vão para o Umbral?

Dallessandro: Então, o que eles chamam de umbral? Allan Kardec entrevista vários espíritos, que está implícito na obra Céu e Inferno, belíssima obra, é a 4ª obra da codificação, publicada em 1865. Foram espíritos, por exemplo, que se suicidaram, espíritos que levaram a vida a sério, ou seja, praticando as leis divinas, de amar o próximo como a si mesmo e a Deus, sobre o maior mandamento, e o interessante ressaltar que umbral vem do grego e significa sombra. Então toda pessoa que como encarnado foge às leis divinas já estaria no umbral. E ao se despojar do corpo físico, ele iria para um ambiente a qual ele já habitou como encarnado. Então aquele que, por exemplo, só pensava em roubar, ao desencanar vai ficar com pessoas que só pensam em roubar, e assim sucessivamente. Então o ato de desencarnar, que nada mais é do que o ato de sonhar - daí frase famosa: “ao sonhar ou dormimos nós estamos morrendo todos os dias” é verdadeira, porque no sono a gente vai para os lugares que nos favorece, que a gente gosta já como encarnado.







9) Há também muita curiosidade sobre mediunidade. Você poderia definir mediunidade?

Dallessandro:
A mediunidade, o ideal será ler o Livro dos Médiuns, o 2º livro da codificação dos espíritos, publicado em 1861, a 1ª obra científica da doutrina. No Livro dos Médiuns, Kardec deixa claro que como somos espíritos imortais, a comunicação dos espíritos é através do pensamento. Então mediunidade seria isso: eu unir meu pensamento ao pensamento de outro espírito, somar pensamentos. A pessoa que pensa bem vai atrair espíritos bons, ou seja, vai ser médium de coisas belíssimas. Uma pessoa que pensa de maneira equivocada, vai atrair a mesma coisa: espíritos que pensam de maneira equivocada. Então vai ser médium de coisas extremamente equivocadas.



10) E todos podem ser médiuns?

Dallessandro: Todo mundo é médium, na realidade. Varia o grau. Uns são voltados para a intuição, outros à inspiração, outros à psicografia. Isso seria um trabalho da pessoa educar a mediunidade. Todo mundo ao nascer, ou melhor, todo mundo na condição de encarnado ou desencarnado é médium. Nós da espiritualidade somos médiuns, uns dos outros, mas vai depender da afinidade. Um espírito só se comunica através de um médium se o médium em questão lhe apetece, lhe atrai. Vou usar o exemplo de Chico Xavier, quem eram os espíritos que vinham através de Chico? A característica do médium em questão. Uma pessoa extremamente religiosa, voltada às coisas do bem, ele não atraía para si pessoas perturbadas, o que não quer dizer que o médium não possa dar oportunidade a um espírito, por exemplo, que se arrependeu, dar um depoimento. Isso existe nas casas espíritas, no trabalho chamado desobsessão. Médium psicofônicos que dão a oportunidade daquele que se arrependeu narrar para os membros. Seria como eles desabafarem. Então, o espírito se aproxima do médium e dá seu depoimento. Mas não quer dizer que o espírito encarnado, ou seja, o médium vai ter os pensamentos de maldade que o espírito esteja transmitindo.
Então a mediunidade seria isso: junção de pensamentos, que é algo que até hoje a ciência está atrás. Recentemente, setembro de 2007, um neurologista canadense publicou um livro, intitulado “Cérebro Espiritual”, onde ele faz um apanhado:
a mente não se encontra no cérebro. Algo que a doutrina já fala desde 1868 na obra A Gênese. O pensamento e a vontade são para o espírito, o que as mãos são para o corpo físico. Então pensamento é um atributo de espírito, não é do cérebro. O cérebro está para o espírito, assim como um computador para uma pessoa a frente de um computador. Eu preciso digitar, teclar, para que o computador faça suas funções. Então o computador seria o cérebro, a pessoa que está na frente é o espírito imortal, ou seja, o pensamento é meu, o pensamento não é do corpo físico, como infelizmente alguns cientistas materialistas defendem, que seria uma produção, uma secreção das glândulas.



11) Sobre a Justiça Divina, por que uma pessoa nasce na Etiópia e a outra nasce em uma família com muito dinheiro?

Dallessandro: Acontece, Kardec já vai tratar esse tema no Livro dos Espíritos, e mais tarde vai ampliar um pouco o tema no Evangelho segundo o Espiritismo. É um capítulo belíssimo onde ele vai dizer que na riqueza a gente tem a oportunidade de desenvolver a caridade material e a abnegação, enquanto que na pobreza a gente teria que desenvolver a paciência e a resignação – são duas experiências diferentes. Então não quer dizer que Deus está punindo, porque na Doutrina Espírita não existe punição, não existe proibição. O que acontece é: a experiência da pobreza e da riqueza desenvolve sentimentos, que é diferente de instintos. Sentimento é quando eu educo os meus instintos. Então as duas experiências vão me trazer ensinamentos educativos de sentimentos até o momento em que, como espírito puro, eu vou conseguir unir todos os sentimentos. Essa questão, aos olhos da pessoa extremamente materialista, Deus seria injusto, porque aquele está passando fome enquanto aquele está desprezando a comida. Mas pela ótica da Doutrina dos Espíritos, a pessoa nasce rica para desempenhar tarefas, o que não quer dizer, por exemplo, que ele também tenha que desprezar seus bens, pelo contrário. Ele tem que ajudar quem está ao redor. Então se ele gasta mal o seu dinheiro, ele vai responder por isso. Porque ele momentaneamente está rico, na condição financeira. Assim como autoridade. A doutrina espírita vai dizer: aquele que hoje está como superior, um dia foi inferior, ou amanhã será inferior. Então não existe, diante da Doutrina Espírita, o melhor. Todas as experiências são boas, até a gente chegar ao grau de espíritos puros. É necessário, no patamar que nos encontramos de evolução, passarmos pela pobreza e pela riqueza, porque vai desempenhar virtudes dentro de nós. O que não quer dizer que, já num mundo de regeneração, ou depois num mundo de gozo, porque pela escala espírita o planeta Terra está num mundo de provas e expiações - segunda categoria-, lá exista riqueza ou pobreza. Pode ser que não, assim como nas colônias espirituais, André Luiz deixa bastante claro, na belíssima obra sua, Nosso Lar, que lá não existe riqueza nem pobreza, na colônia em cima do Rio de Janeiro, Nosso Lar. Existe lá a pessoa que trabalha e ela converte aquele trabalho em bônus horas, que ela pode aplicar em estudos, confraternizações, e outras atividades. Então, ainda nos encontramos num patamar de evolução que precisamos passar, infelizmente, pela pobreza e pela riqueza. Agora o difícil não é passar, e sim aproveitar a oportunidade que Deus nos dá, que às vezes mergulhados na matéria, ficamos invigilantes. Então na condição de pobre, que às vezes a gente pediu para ser, ficamos revoltados, ou na condição de rico, desprezamos aqueles que estão ao nosso redor. Palavra afetuosa de Jesus: vigiai e orai que não entreis em tentações. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Antes de encarnar a gente pediu essa missão, mas quando está encarnado, ou seja, quando está na carne, a gente segue as tendências da moda, ou as tendências dos outros, perdendo a nossa individualidade, falhando na prova.


12) Outro tema curioso é a diferença entre possessão e obsessão.

Dallessandro: Obsessão, tema que se encontra no Livro dos Médiuns, vem de obsediare, tem uma idéia fixa em algo. Então há vários tipos de obsessão: de espírito encarnado para espírito encarnado, de um espírito encarnado para um espírito desencarnado, de um espírito desencarnado para um espírito encarnado, de um espírito desencarnado para outro espírito desencarnado, e atualmente, muito comum para nós, os que estamos encarnados, a auto-obsessão. Então Kardec deixa caracterizado que, o único procedimento capaz de você se livrar de uma obsessão quando você está se prejudicando, ou quando você está prejudicando o outro, ou um outro está lhe prejudicando, é através das ações enobrecedoras. Uma pessoa que segue as leis divinas, por conseqüência, está sempre alegre, vigilante, então não sofre o assédio de espíritos que se encontram, momentaneamente, na faixa da inveja, do orgulho, do egoísmo, da sensualidade, e outros sentimentos não pouco enobrecedores. Então, exorcismo na doutrina não existe, porque Kardec vai perguntar no Livro dos Espíritos sobre rituais, a questão de talismãs, a questão das orações pagas, e os espíritos superiores deixam bastante claro que o que faz com que os espíritos se afastem, os espíritos que vêm nos perturbar, são as nossas atitudes do bem. Quanto mais benévolos nós formos perante os outros, ou seja, praticando as leis divinas, estaríamos educando-os através do exemplo. Então a pessoa que sofre um assédio, a obsessão, que é natural no planeta que nos encontramos, nos mostra que ela não está vigilante, não está levando a sério a sua religiosidade. Então você pode ser um católico e não sofrer os assédios da obsessão, um evangélico, um budista, assim como você pode ser um espírita e ser extremamente obsediado. Uma coisa é a teoria, a outra é a prática. Ao receber a teoria, com o livre-arbítrio, a gente transforma a informação em formação para o nosso espírito. Então é preferível que você seja um bom cidadão do que um péssimo religioso. Às vezes as pessoas falam que não existe salvação fora do Espiritismo. Lógico que existe! Kardec deixou bastante claro, “fora da caridade não há salvação”. O que seria caridade, pergunta 886, do Livro dos Espíritos: benevolência para com todos. Benevolência vem da palavra benevolere, ou seja, eu emitir a bondade a todo mundo, não só para meus familiares e amigos, é para todos. Continua o Espírito da Verdade: indulgência para com as imperfeições alheias. Indulgência vem do latim: in = dentro; dulcere = doce. Uma pessoa indulgente é aquela pessoa que é doce por dentro. Se ela é doce por dentro, ela vai ser doce ao falar com as pessoas, ela fala doce, tem um olhar doce, e termina ele: perdão das ofensas. Perdoar, ir além de. Caridade é isso. Uma pessoa caridosa, evidentemente, jamais será obsediada.


13) Mas possessão existe?

Dallessandro: A própria física explica isso: não pode ter dois objetos ocupando um espaço só.




14) Conheço pessoas que não têm o hábito de orar e dizem que isso não faz falta. Elas estão certas?

Dallessandro: Estão bastante equivocadas. Aliás, se essas pessoas gostam das visões científicas, já estão comprovados cientificamente os benefícios da oração. Em várias experiências médicas nós temos aqui, não sei de cor, mas posso trazer pesquisas feitas pelo menos nas universidades brasileiras que ficou comprovado que no grupo de pessoas que tiveram a mesma doença no hospital, aquelas que faziam oração, saíram mais rápido do hospital do que aquelas que não faziam. Uma pessoa que faz prece é uma pessoa extremamente vinculada às leis universais, por conseqüência tem mais chance de retornar ao mundo espiritual e dialogar com outros espíritos. Na literatura espírita, na revista espírita, no próprio Céu e Inferno há relatos disso e mais tarde o dedicado apóstolo do Espiritismo, Francisco Candido Xavier, através das obras cuja representação está no cavalheiro André Luiz nos mostra detalhes fantásticos do mundo espiritual, muitos trabalhadores, até encarnados ajudando os benfeitores que estão desencarnados.





15) Mas Deus consegue ouvir as preces de todos?

Dallessandro: Pela ótica da doutrina dos Espíritos, primeiro há um fluido que permeia todos nós, o fluido cósmico universal, então é esse fluido que leva nossos pensamentos. Fazendo uma analogia seria o som e a fala. Ao falarmos o som é levado para a outra pessoa que está ouvindo. No plano Espiritual seria o fluido cósmico universal: eu penso e Deus já captou. Aliás, na doutrina dos Espíritos quem quiser maiores informações com que diz respeito à prece, é só ler o livro “Cartas de uma Morta”, pela editora Lake. É sobre a mãe de Francisco Candido Xavier, onde sua primeira missão na espiritualidade era essa: anotar as preces das pessoas que estavam pedindo solicitações para os benfeitores espirituais. Então ela via fachos de luz passar por ela, ou seja, espíritos superiores a ela é que recebiam a mensagem.
Agora uma pessoa que se recusa a orar é aquela pessoa que, por exemplo, se recusa a tomar sol: um dia fica doente.


15) Se você tivesse que fazer uma escolha entre praticar a caridade e estudar o Espiritismo, qual seria?

Dallessandro: Os dois. Porque seria o mesmo que eu perguntar qual das suas pernas é a melhor, você pode responder: a direita. Então posso cortar a esquerda? Então o ato de andar pressupõe isso, você precisa de uma para a sustentação para a outra se erguer e ir para frente. Então na doutrina dos Espíritos, tanto o estudo quanto a caridade são importantíssimos, porque através do estudo você vai saber como ajudar o outro. Porque só com a caridade, sem o estudo, em vez de ajudar você pode cair num sentimentalismo doentio. Você querer resolver, por exemplo, o problema da pessoa, aquela dor, e é necessário ele passar por aquela dor para ele ganhar conhecimento, ganhar maturidade. Por exemplo, um desapontamento: a própria palavra está dizendo “apontar”, então eu tenho uma meta. Quando eu saio dessa meta, ou seja, um desapontamento, eu estou mudando de caminho. Então quando eu tenho um desapontamento com uma pessoa ou um grupo de pessoas eu estou ganhando maturidade para minha alma, pois até aquele momento eu tinha aquela visão, a partir daquele momento eu aprendi, “olha não era bem assim”. Meu ídolo não era aquilo que eu achava que era, é um ser humano como eu que está na estrada da evolução burilando, trabalhando, melhorando-se e eu que infelizmente coloquei muita coisa nos ombros dele.
Então na questão, o estudar é tão importante como o agir. Tanto é que na introdução do Livro dos Espíritos vai dizer isso no item 6, a perseverança e a dedicação. O espírita que não é perseverante e que não se dedica aos estudos corre o risco não só de se machucar, mas principalmente machucar quem está ao redor dele.


16) E para terminar, o que faz o Espiritismo para melhorar a sociedade em que vivemos?

Dallessandro: O Espiritismo, o que faz primeiro, é nos melhorar. Como é uma doutrina totalmente educativa, nos mostra a educação da alma. Eu melhorando colaboro na sociedade em que me encontro. Então a proposta do Espiritismo é primeiro a pessoa se melhorar. Ao você melhorar, ajudar aqueles que, momentaneamente, às vezes não perceberam a grandiosidade da vida, as belezas do universo, estão às vezes confusas mergulhados num mundo materialista.
A grande colaboração de qualquer doutrina espiritualista, a católica, evangélica, a budista, está implícito todas estas que acreditam na alma, seria isso, transcender um material. Dentro das espiritualistas há o Espiritismo, que as propostas são várias: um Deus único, um Deus de misericórdia e bondade, a boa utilização do livre-arbítrio, estamos sempre com a oportunidade de melhorar, corrigir, não precisamos desencarnar para mudar, nem estamos fardados ao mal, à eternidade. Então eu melhorando, eu melhoro o que está ao meu redor. Pelos exemplos, como fez Jesus, deixou bastante claro na sua mensagem, afinal de que seremos reconhecidos seus discípulos, se amarmos uns aos outros, como ele nos amou. Então
amou sem exigir. Esse é um grande papel do Espiritismo.


17) Aqui no Centro Ismênia de Jesus há uma creche e principalmente um trabalho com moradores de rua – vocês dão almoço todos os dias, roupas e ajuda espiritual, um exemplo de melhoramento da sociedade.

Dallessandro: Para as necessidades de um país como o nosso, em desenvolvimento, sim. Não que em outros países não necessite, porque como deixou claro no Livro dos Espíritos, na questão 886 sobre caridade, é um conceito bem abrangente mais voltado à alma do que o corpo. Como vivemos num país em desenvolvimento, qual é a 1ª necessidade? As necessidades básicas: alimentação, vestuário. Então no Ismênia de Jesus, que Maria Máximo fundou em 1937, principalmente o departamento que dá a palavra amiga, para esses irmãos que momentaneamente se encontram desabrigados, dá vestuário, dá alimentação, mas o melhor que dá é o carinho, o amor, a palavra de Jesus, através do Evangelho segundo o Espiritismo, porque sabe que a pessoa está momentaneamente desabrigada. Que cabe acolhe-la e dar informações para que ela saia daquela situação. Então a caridade maior seria essa instrução. O centro espírita é uma escola da alma, todos nós estamos na condição de aprendizes, cujo exemplo é Jesus.
Se nos encontramos num país em desenvolvimento, devemos olhar ao nosso redor e fazer algo para mudar esse quadro momentaneamente desagradável que se encontra, diante a história do próprio país em questão e no Brasil a gente sabe como um país que ainda há muita concentração de renda, muitas dificuldades, e aquilo que a gente vê, pessoas momentaneamente desabrigadas.







Para quem tiver curiosidade, quiser colaborar ou fazer parte do estudo do Espiritismo, o site do Centro Espírita Ismênia de Jesus é o seguinte: www.ismeniadejesus.org.br.

A Origem do Espiritismo



Nas palavras de Dallessandro Bence Sant'Ana Rodrigues, “o Espiritismo surgiu nos EUA pelos fenômenos mediúnicos em Hydesville, de acordo com as jovens chamadas Fox: elas começaram a escutar batidas em várias partes de sua casa, até que fizeram perguntas e as repostas vinham em tom de batidas. Mais tarde se espalhou para o mundo todo, centrando a sua visão, principalmente na Europa, quando Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec era seu pseudônimo para diferenciar seus livros didáticos dos livros Espíritas) é convidado, precisamente no ano de 1855, pelo seu colega Fortie a ver os fenômenos mediúnicos em Paris, que seriam as mesas girantes. Então, Allan Kardec começa a fazer as seguintes reflexões, já que ele tinha em sua base filosófica a ciência: se para todo efeito existe uma causa, um efeito inteligente tem origem uma causa inteligente. Como uma mesa, que não é constituída de células e nervos, pode dar respostas inteligentes? E foi aí que ele pesquisou e vieram
todas as informações dos espíritos superiores. Mais tarde, ao fundar a Sociedade de Estudos Parisienses, no ano de 1858, exatamente no dia 1º de abril, ele vai receber de várias partes do mundo, psicografias, mostrando para todos nós, que sempre houve, perante a humanidade, um conceito de mediunidade: a intervenção do mundo espiritual perante a gente, a gente perante o mundo espiritual. É só ler a Bíblia que vamos ver vários fenômenos mediúnicos, tais como os sonhos, onde vai aparecer o anjo Gabriel para Maria enunciando a vinda de Jesus, e outras passagens belíssimas. Então, a faculdade mediúnica em si, desde que o ser humano existe como ser encarnado, sempre existiu”.

Allan Kardec

Um filme brasileiro que mostra as indagações de Kardec até a publicação do Livro dos Espíritos.

O Codificador do Espiritismo: Allan Kardec

Allan Kardec (1804-1869)

O espiritismo surgiu devido a eventos estranhos no Estados Unidos, com as irmãs Fox, juntamente com as “mesas girantes” na Europa. Esses eventos chamaram a atenção do pensador francês Léon Hippolyte Denizard Rivail (1804-1869), mas conhecido por seu pseudônimo, Allan Kardec. A partir disso, Kardec começou a procurar explicações de forma lógica e racional para conseguir entender tais eventos, tidos como sobrenatural ou sem explicação sensata.

Allan Kardec foi o codificador da doutrina espírita, inicialmente influenciado por Pestalozzi, dedicou-se ao estudo e à sistematização desses fenômenos e mensagens em que supostamente interferiam os espíritos dos mortos, na qual extraiu bases filosóficas, científicas e religiosas da nova doutrina. Seus estudos deram seqüência à publicação de seus livros como “O Livro dos Espíritos” (1857), que teve grande repercussão. Ele fundou “Réveu Spirite” (1858) para divulgar a doutrina, desenvolveu intensa atividade proselitista e criou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (1858). Publicou também “O Livro dos Médiuns” (1861), sobre a prática do espiritismo, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O céu e o Inferno”, “A Gênese”, “Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo” e “Testamento Filosófico”.

Enfim, Allan Kardec foi o marco inicial do espiritismo, ou seja, ele foi uma pessoa muito importante para que a doutrina espírita se desenvolvesse até os dias de hoje.



* Atividade proselitista: indivíduo convertido a uma doutrina.

* Espiritismo, também denominado de Doutrina Espírita.

* João Pestalozzi nasceu em Zurique, Suíça, em 1746 e faleceu em 1827. Exerceu grande influência no pensamento educacional e foi um grande adepto da educação pública.

* O pseudônimo "Allan Kardec", segundo biografias, foi adotado pelo Prof. Rivail a fim de diferenciar a Codificação Espírita dos seus trabalhos pedagógicos anteriores.

A Base da Crença Espírita

O espiritismo é formado por um triângulo composto por religião, ciência e filosofia e tem como idéia base a evolução espiritual - moral e intelectual.

Allan Kardec ao codificar o espiritismo, pesquisou por anos a relação dos espíritos com o mundo material e encontrou inúmeras explicações cientificas e filosóficas para perguntas que não são respondidas por outras religiões. Como o próprio Kardec disse: “Quando a ciência demonstrar que o espiritismo estiver errado em um ponto, ele se modificará neste ponto”, o que demonstra a preocupação de Kardec de codificar a doutrina utilizando a ciência e a filosofia em equilíbrio com a religião, criando assim uma crença que explicaria o universo sem falhas já que teria a ciência como uma de suas bases.

Utilizando-se da religião, da ciência e da filosofia, o espiritismo tem como suas crenças principais, além da evolução espiritual, a reencarnação, a crença em um Deus único, onipotente, bondoso, misericordioso e imaterial e a existência da vida em outros mundos. E ao contrário do que pensam algumas pessoas, o espiritismo crê em Jesus e vê nele a imagem de um grande espírito que veio nos ajudar a evoluir e alguns o tem como o precursor da doutrina, já que suas palavras a guiam. Tendo estas idéias como sua base, o espiritismo tem como ideologia fundir a religião e a ciência, uma explicando os “buracos” da outra.

Hierarquia e divisão do poder no Espiritismo

Na doutrina espírita não há divisão hierárquica, já que a doutrina prega o desapego à matéria - incluindo cargos de poder. Por isso na doutrina o único cargo é o de presidente e vice-presidente (isto ocorre em centros apenas, nas federações existem outros cargos administrativos) que existe por exigência legal no Brasil. O presidente do centro normalmente será uma pessoa de grande conhecimento da doutrina, apesar de sua função ser basicamente administrativa.

O que pode ser confundido com cargos é a existência de um respeito maior por certas pessoas de cada centro. Esse respeito existe com pessoas que se comprometem mais com o centro, pessoas com maior responsabilidade dentro da instituição. Mas estes trabalhos são voluntários, e não referentes a poder ou importância.

A Visão Espírita da Bíblia e o Evangelho segundo o Espiritismo




Para os espíritas, o contato entre homens e seres do Além é freqüente na Bíblia Sagrada, que estaria representado nas histórias onde se vêem, ouvem e evocam espíritos e, até mesmo, Deus.

O rei de Israel, Saul, amedrontado diante da ameaça dos filisteus, precisava saber por que Deus não respondia mais a suas dúvidas, nem por meio de seus sonhos. Então pediu a uma mulher: “Quero que você me adivinhe o futuro evocando os mortos ou a pessoa que eu disser”. Assim, ela o obedeceu e chamou pelo espírito de Samuel. E disse: “Vejo um espírito subindo da terra”. Entre estudiosos espíritas, este é apenas um dos trechos da Bíblia Sagrada onde se comprova a antiguidade da existência da mediunidade (capacidade de se estabelecer um contato entre vivos e mortos).

O dom da incorporação, quando um médium emprestaria seu corpo para um espírito, por exemplo, teria se passado com Ezequiel que disse: “Entrou em mim um espírito que me fez ficar de pé” (Ezequiel 2,1-2). Por meio da psicofonia, o ato de emprestar a voz para o Senhor que passaria, então, a transmitir mensagens divinas para rebeldes da casa de Israel. “O profeta, no caso, é o porta voz de Deus”. A capacidade de se ver e ouvir espíritos também se revelaria na passagem em que Jesus transfigura-se para Tiago e João no monte Tabor e, em seguida, faz aparecer Moisés e Elias (Mateus 17, 1-9). Até mesmo a voz que a Bíblia diz ter o recado a Noé no episódio do grande dilúvio (gênesis 6,13) ou a Abrão quando precisa sair de sua terra e seguir para Canaã.

Para os espíritas, isso prova de que os seguidores da Bíblia teriam apenas uma maneira diferente de conceituar os fenômenos. “No protestantismo seriam poder de cura, profecias, dom da palavra. Entre os carismáticos, chamam de dom de falar em línguas”. Há também religiões que não acreditam na reencarnação (renascimento na Terra ou em outro planeta, em outro corpo, numa nova vida) e, por isso, não compartilham da idéia de um contato entre vivos e mortos. Para eles, os mortos transcenderiam em corpo e alma junto de Deus, desvinculando-se da vida terrena. Os profetas seriam então portadores de dons divinos e mensageiros do grande Pai.

Em abril de 1864, Allan Kardec escreveu a obra chamada Evangelho Segundo o Espiritismo, que avalia os evangelhos canônicos sob a óptica da Doutrina Espírita, tratando com atenção especial a aplicação dos princípios da moral cristã e de questões de ordem religiosa como a da prece e da caridade. Entre os cinco fundamentais do espiritismo compiladas por Allan Kardec, é a que dá maior enfoque a questões éticas e comportamentais do ser humano.

Na introdução da obra, Allan Kardec divide didaticamente os relatos contidos nos Evangelhos canônicos em cinco partes: os atos ordinários da vida de Jesus: os milagres; as predições; as palavras que serviram de base aos dogmas; e os ensinamentos morais. Segundo Kardec, se as quatro primeiras foram, ao longo da histórias, objeto de grandes controvérsias, a última tem sido ponto pacífico para a maior parte dos estudiosos.

Assim, é especificamente sobre essa parte que Kardec lança olhar espírita. Longe de pretender criar uma “Bíblia espírita” ou mesmo de objetivar uma reinterpretação espírita desse livro sagrado, Kardec se empenha em extrair dos Evangelhos a ordem ético-moral universal, e em demonstrar sua semelhança com aqueles defendidos pelo espiritismo. Utiliza-se, na maior parte da obra, da célebre tradução francesa de Sacy, e para solucionar divergências, ele recorre ao grego e ao hebraico.




Traz, ainda, um estudo sobre o papel de precursores do espiritismo, que teria sido desempenhado por Sócrates e Platão, analisando diversas passagens legadas por estes filósofos que demonstrariam claramente que o Espiritismo existia, mas ainda era oculto.

Rituais e Dogmas

O verdadeiro centro espírita não pratica em suas atividades nenhum tipo de ritual, a não ser uma prece evocando a proteção de Jesus e dos bons Espíritos. Ajoelhar-se frente a algo ou alguém, benzer-se, sentar-se no chão ou ficar levantando e sentando durante o trabalho, não são realizados na Doutrina Espírita, já que o importante é o seu pensamento e sua sintonia, e não o jeito do seu corpo físico.
Os Espíritas seguem o que o Mestre Jesus ensinou: Deus é Espírito, e deve ser adorado em espírito e verdade. Portanto, sem a necessidade de nada material.
Nas sedes dos verdadeiros centros espíritas não são encontradas imagens de santos, amuletos de sorte, figuras que afastam ou atraem maus Espíritos, incensos ou velas. Também não se adota a prática de atos, como:

- Exorcismos, sacrifícios de seres vivos, rituais de iniciação de qualquer espécie ou natureza;

- Práticas de atos materiais oriundos de quaisquer outras concepções religiosas ou filosóficas;
- Rituais e encenações extravagantes de modo a impressionar o público, exercícios de cartomancia e outras práticas similares, danças, procissões e atos análogos;
- Administração de sacramentos como batizados, casamentos, concessão de indulgências e sessões fúnebres;
- Pagamento e ou retribuição de qualquer natureza por benefício recebido;
- Hinos ou cânticos em línguas mortas ou exóticas, incenso, mirra, fumo, velas ou substâncias outras que induzam a prática de rituais.

Porém, não são contra que se faça uma prece num casamento, desde que seja apenas uma prece e se deixe bem claro que aquilo não é uma cerimônia espírita de casamento e logicamente não se preenche nenhum documento. O Espiritismo respeita a lei civil, e muito mais do que a lei civil, a lei do amor.
O Espiritismo ensina também que ninguém pode ser feliz em cima da infelicidade de outra pessoa. Logicamente que podem fazer uma prece num enterro, especialmente de companheiros espíritas, ou no nascimento de uma criança, desde que fique claro que não se trata de encomendação do corpo ou batizado.

As Músicas Espíritas

Geralmente as músicas espíritas têm fins doutrinários.

Moacyr Mendes é da Bahia e desenvolve um trabalho musical na linha do forró tradicional, e, também, utiliza a sua criatividade musical como cantor e compositor, realizando um outro trabalho, dentro do movimento da doutrina espírita: A voz de um Anjo, À luz do Evangelho e Mensageiros da Luz. Esse trabalho possui dois objetivos principais: primeiro contribuir com a divulgação da doutrina espírita, através da boa música, a qual possa levar paz, harmonia e ajudar nas nossa reflexões. O segundo é, ajudar na parte financeira da casa espírita da qual faz parte como um dos trabalhadores (Instituto Manoel Philomeno de Miranda).

Temos como exemplo também a Oração do Menino de Rua, que é uma Psicomusicografia pelo médium Bibiana Brito.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Espiritismo no Brasil

É no Brasil que se encontra o maior número de seguidores do Espiritismo: são aproximadamente doze mil núcleos espíritas no país, totalizando milhões de adeptos e simpatizantes (cerca de 10% da população brasileira); em outros países o número de núcleos espíritas é bem menor (algumas dezenas somente).

Dentro do nosso país, se encontra em 1º lugar o Catolicismo, seguido da religião Evangélica e em 3º lugar, o Espiritismo.



O Espiritismo no Mundo

Na época de Allan Kardec, o Espiritismo já existia em 37 países e 4 continentes, num total de 268 localidades:

EUROPA (18 países): Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Escócia, Espanha, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Itália, Polônia, Portugal, Prússia, Rússia, Suécia, Suíça, Ucrânia;

AMÉRICA: (8 países): Brasil, Canadá, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Guiana Francesa, México, Peru;


ÁFRICA: (5 países): Pequena Cidade Africana, Argélia, Egito, Guiné Bissau, Ilhas Maurícia;


ÁSIA: (6 países): Extremo da Ásia, China, Cochinchina (Indochina), Síria, Turquia, Israel.





Ícones Espíritas

Nesse vídeo há nomes que foram e ainda são de extrema importância para o Espiritismo. Abaixo, pequenas biografias de André Luiz, Bezerra de Menezes, Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco e Emmanuel.


André Luiz


"Quero trabalhar e conhecer a satisfação dos cooperadores anônimos da felicidade alheia. Procurarei a prodigiosa luz da fraternidade através do serviço às criaturas, olvidando o próprio nome que deixo para trás por amor a Deus e a elas. Revisto-me transitoriamente de outra personagem para melhor ensinar e amparar. Sou André Luiz."


André Luiz foi um médico muito inteligente, porém moralmente não desenvolvido. Em suas próprias palavras, encontradas no livro Nosso Lar, ele se define em sua vida terrena: "Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus títulos universitários sem maior sacrifício, compartilhara os vícios da mocidade do meu tempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situações estáveis que garantissem a tranqüilidade econômica do meu grupo familiar, mas, examinando atentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noção do tempo perdido, com a silenciosa acusação da consciência. Habitara a Terra, gozara-lhe os bens, colhera as bênçãos da vida, mas não lhe retribuíra ceitil do débito enorme. Tivera pais, cuja generosidade e sacrifícios por mim nunca avaliei; esposa e filhos que prendera, ferozmente, nas teias rijas do egoísmo destruidor. Possuí um lar que fechei a todos os que palmilhavam o deserto da angústia. Deliciara-me com os júbilos da família, esquecido de estender essa bênção divina à imensa família humana, surdo a comezinhos deveres de fraternidade”.


Arrogante, sem acreditar em Deus, na vida após a morte e no valor da prece, quando André Luiz faleceu, achou que sua família estava louca – pois ninguém o escutava. Ficou 8 anos no sofrimento, até que pediu ajuda à Deus.


Hoje, ajuda pessoas no plano espiritual, pois teve experiência como médico e, com a ajuda de um médium, contou sua trajetória a partir de sua morte, no livro Nosso Lar.


"Nosso Lar" descreve as atividades de uma cidade espiritual próxima à Terra e transforma-se em objeto de estudo, discussão e deslumbramento nos círculos espíritas do país.


Bezerra de Menezes


Adolfo Bezerra de Menezes, cearense, nascido em 1831, desencarnado no Rio de Janeiro em 1900.


Aos 11 anos de idade inicia o curso de Humanidades e aos 13, substituía o professor nas aulas de latim, em seus impedimentos. Em 1856, doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, defendendo a tese “Diagnóstico do Cancro”. Em 1861, foi eleito vereador municipal pelo Partido Liberal, porém teve sua eleição impugnada pelo chefe conservador Haddock Lobo sob a alegação de ser médico militar. Afastou-se do Exército e em 1867, foi eleito Deputado Federal. Bezerra de Menezes tinha o cargo de médico como verdadeiro sacerdócio.


No ano de 1883, reinava um ambiente dispersivo do Espiritismo no Brasil. Os Centros Espíritas trabalhavam de forma autônoma. Cada um deles exercia sua atividade em um determinado setor, despreocupado em conhecer as atividades dos demais. Esse estado de coisas levou-os a fundação da Federação Espírita do Brasil (FEB).


Nessa época, já existia muitas sociedades espíritas, porém as únicas que mantinham a hegemonia eram quatro: a Acadêmica, a Fraternidade, a União Espírita do Brasil e a Federação Espírita Brasileira. Entretanto, logo surgiam entre ela rivalidades e discórdias. Sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando importantes instruções, dadas Allan Kardec, atares do médium Frederico Júnior, foi fundado o famoso Centro Espírita, porém nem por isso deixava Bezerra de Menezes de dar sua cooperação a todas as outras instituições.


Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada, ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas ou não. Em 1894, o ambiente demonstrou tendências de melhora e o nome de Bezerra foi lembrado como o único capaz de unificar a família espírita. Assumiu então, aos 63 anos de idade a presidência da Federação Espírita Brasileira. Recebeu o cognome de “Kardec Brasileiro”.




Chico Xavier no Fantástico

Um vídeo falando sobre Chico Xavier e seus últimos momentos.
Abaixo, sua biografia.






Chico Xavier
Grande médium brasileiro

Francisco Cândido Xavier (1910-2002), mais conhecido por Chico Xavier, foi um grande médium brasileiro, famoso por seus poderes psicográficos. Embora tenha estudado apenas até o quarto ano primário, tem mais de 400 livros publicados – o dinheiro de todos esses livros foi mandado para Instituições de Caridade, já que, segundo Chico, os livros não eram dele, e sim dos espíritos. Seu mentor mais importante é Emmanuel (espírito), mas também recebia mensagens de outros espíritos como: André Luiz, Meimei e o da sua mãe, Maria João de Deus, com quem mantinha contatos mediúnicos desde a infância. Desenvolvia intensos trabalhos evangélicos e assistenciais na cidade de Uberaba, em Minas Gerais, aonde nasceu e morava. Em 1981, seus seguidores organizaram um movimento para que Chico Xavier recebesse o Prêmio Nobel da Paz, mas a indicação foi ignorada pela Academia Norueguesa.





Imagem que representa o médium Chico Xavier psicografando uma mensagem do Espírito de Emmanuel (por André Koehnne).

Divaldo Pereira Franco



Divaldo Pereira Franco nasceu em cinco de maio de 1927, na cidade de Feira de Santana, Bahia, e desde a infância se comunica com os espíritos. Cursou a Escola Normal Rural de Feira de Santana, recebendo o diploma de professor primário, em 1943. Trabalhou como escriturário no antigo IPASE, Salvador. Aposentando-se em 1980. Dos seus oitenta anos, sessenta foram devotados à causa Espírita e às crianças excluídas, das periferias de sua Salvador. Divaldo recebeu mais de 700 homenagens, de instituições culturais, sociais, religiosas, políticas e governamentais.


Reconhecido como um dos maiores médiuns e oradores espíritas da atualidade. Fundou juntamente com seu fiel amigo Nilson de Souza Pereira, O Centro Espírita Caminho da Redenção e a Mansão do Caminho, que atendem a toda a comunidade do bairro de Pau da Lima, em Salvador, beneficiando milhares de doentes e necessitados. Um verdadeiro apóstolo do Espiritismo.


Como médium, publicou 202 livros com mais de 8 milhões de exemplares, onde se apresentam 211 Autores Espirituais, muitos deles ocupando lugar de destaque na literatura, no pensamento e na religiosidade universais. Dessas obras, houve 92 versões para 16 idiomas (alemão, albanês, catalão, espanhol, esperanto, francês, holandês, húngaro, inglês, italiano, norueguês, polonês, tcheco, turco, russo, sueco e sistema Braille). A renda proveniente dessas obras foram doadas para o Cartório, à Mansão do Caminho e outras entidades filantrópicas.


Fundou em 1952, A Mansão do Caminho instituição que acolheu e educou crianças sob o regime de Lares Substitutos. Em 20 Casas Lares, educou mais de 600 filhos, hoje emancipados, a maioria com família constituída.


Hoje, a Mansão do Caminho é um admirável complexo educacional com 83.000 m2 e 50 edificações que atende a três mil crianças e jovens de famílias de baixa renda dos bairros periféricos mais carentes de Salvador.


Emmanuel


Emmanuel é um espírito de nível elevado que ficou famoso por ser o orientador espiritual do médium Chico Xavier. Dezenas de obras de Emmanuel foram psicografadas por Chico, entre elas ‘‘Há 2000 anos...”, ‘’Ave, Cristo!’’, ‘‘50 Anos depois”. Suas obras são em geral romances históricos ou livros de aconselhamento espiritual.


Em várias de suas obras Emmanuel fala de suas vidas passadas, entre as mais ‘’importantes’’ estão sua vida como Públio Lentulus, um Senador Romano, orgulhoso porem de caráter nobre, tendo até mesmo a oportunidade de se encontrar com Jesus. Morre em Pompéia vitima do Vesúvio, mas já seguindo os ensinamentos deixados por Jesus.


Em outra de suas vidas ele é Nestório, um grego de descendência judia, mas que se tornou cristão enquanto ainda criança. É orgulhoso mas segue os ensinamentos de Jesus e por isso é preso e escravizado, e por não desistir de sua fé em Jesus é condenado a morte. Junto de seu filho é levado ao Coliseu e morre como mártir.


Reencarna como Quinto Varo, um patrício romano de fé cristã que luta a favor do povo que sofre nas ruas. Vítima de uma conspiração, foge e cria uma identidade falsa, mas algum tempo depois acaba sendo capturado e morto.


Reencarna como Quinto Celso, mas morre aos 14 anos em um acidente onde ao mexer com produtos inflamáveis, este acaba ateando fogo em si mesmo.Em 1517 reencarna como Manoel da Nóbrega e desde jovem ingressa na vida de estudos. Vem para o Brasil em missão missionária e em 1554 escolhe o lugar para a fundação da cidade de São Paulo. Morre anos depois aos 53 anos.


Uma frase dita por ele que o defini e defini seu nível espiritual é "Que fazemos no mundo? Tantas vezes pergunta. Fita o céu ocupado, Em dar campos às estrelas. Olha a fonte mais simples, Amparando a quem passa. Não te detenhas. Serve a Terra em construção. Auxilia, abençoa, suporta, ajude e passe. Ama e segue. Não temas, Deus te espera e te vê".