terça-feira, 20 de maio de 2008

A Visão Espírita da Bíblia e o Evangelho segundo o Espiritismo




Para os espíritas, o contato entre homens e seres do Além é freqüente na Bíblia Sagrada, que estaria representado nas histórias onde se vêem, ouvem e evocam espíritos e, até mesmo, Deus.

O rei de Israel, Saul, amedrontado diante da ameaça dos filisteus, precisava saber por que Deus não respondia mais a suas dúvidas, nem por meio de seus sonhos. Então pediu a uma mulher: “Quero que você me adivinhe o futuro evocando os mortos ou a pessoa que eu disser”. Assim, ela o obedeceu e chamou pelo espírito de Samuel. E disse: “Vejo um espírito subindo da terra”. Entre estudiosos espíritas, este é apenas um dos trechos da Bíblia Sagrada onde se comprova a antiguidade da existência da mediunidade (capacidade de se estabelecer um contato entre vivos e mortos).

O dom da incorporação, quando um médium emprestaria seu corpo para um espírito, por exemplo, teria se passado com Ezequiel que disse: “Entrou em mim um espírito que me fez ficar de pé” (Ezequiel 2,1-2). Por meio da psicofonia, o ato de emprestar a voz para o Senhor que passaria, então, a transmitir mensagens divinas para rebeldes da casa de Israel. “O profeta, no caso, é o porta voz de Deus”. A capacidade de se ver e ouvir espíritos também se revelaria na passagem em que Jesus transfigura-se para Tiago e João no monte Tabor e, em seguida, faz aparecer Moisés e Elias (Mateus 17, 1-9). Até mesmo a voz que a Bíblia diz ter o recado a Noé no episódio do grande dilúvio (gênesis 6,13) ou a Abrão quando precisa sair de sua terra e seguir para Canaã.

Para os espíritas, isso prova de que os seguidores da Bíblia teriam apenas uma maneira diferente de conceituar os fenômenos. “No protestantismo seriam poder de cura, profecias, dom da palavra. Entre os carismáticos, chamam de dom de falar em línguas”. Há também religiões que não acreditam na reencarnação (renascimento na Terra ou em outro planeta, em outro corpo, numa nova vida) e, por isso, não compartilham da idéia de um contato entre vivos e mortos. Para eles, os mortos transcenderiam em corpo e alma junto de Deus, desvinculando-se da vida terrena. Os profetas seriam então portadores de dons divinos e mensageiros do grande Pai.

Em abril de 1864, Allan Kardec escreveu a obra chamada Evangelho Segundo o Espiritismo, que avalia os evangelhos canônicos sob a óptica da Doutrina Espírita, tratando com atenção especial a aplicação dos princípios da moral cristã e de questões de ordem religiosa como a da prece e da caridade. Entre os cinco fundamentais do espiritismo compiladas por Allan Kardec, é a que dá maior enfoque a questões éticas e comportamentais do ser humano.

Na introdução da obra, Allan Kardec divide didaticamente os relatos contidos nos Evangelhos canônicos em cinco partes: os atos ordinários da vida de Jesus: os milagres; as predições; as palavras que serviram de base aos dogmas; e os ensinamentos morais. Segundo Kardec, se as quatro primeiras foram, ao longo da histórias, objeto de grandes controvérsias, a última tem sido ponto pacífico para a maior parte dos estudiosos.

Assim, é especificamente sobre essa parte que Kardec lança olhar espírita. Longe de pretender criar uma “Bíblia espírita” ou mesmo de objetivar uma reinterpretação espírita desse livro sagrado, Kardec se empenha em extrair dos Evangelhos a ordem ético-moral universal, e em demonstrar sua semelhança com aqueles defendidos pelo espiritismo. Utiliza-se, na maior parte da obra, da célebre tradução francesa de Sacy, e para solucionar divergências, ele recorre ao grego e ao hebraico.




Traz, ainda, um estudo sobre o papel de precursores do espiritismo, que teria sido desempenhado por Sócrates e Platão, analisando diversas passagens legadas por estes filósofos que demonstrariam claramente que o Espiritismo existia, mas ainda era oculto.

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