terça-feira, 20 de maio de 2008

Entrevista com Dallessandro Bence Sant'Ana Rodrigues








Sábado, dia 10 de maio de 2008, 14h30minh aproximadamente, fomos ao Centro Espírita Ismênia de Jesus. Já havíamos combinado com Dallessandro Bence Sant’Ana Rodrigues de lhe fazermos algumas perguntas sobre o Espiritismo, já que foi Presidente do centro por um tempo e é monitor da equipe de Doutrina – um estudo sobre o Espiritismo que ocorre semanalmente.
Dallessandro tem 31 anos e se interessou pelo Espiritismo aos 16 anos, pela influência dos pais espíritas.


1) Muitas pessoas falam que o Espiritismo é uma religião, mas na verdade é uma Doutrina. Isso é correto?

Dallessandro: Pela doutrina dos espíritos, ou seja, Espiritismo, “ismo” seria doutrina ou sistema dos espíritos, então Espiritismo. Tais como Cristianismo, Budismo, etc. A Doutrina Espírita é uma Doutrina de Tríplice aspecto: tem sua base filosófica, cientifica e religiosa e não possui hierarquias nem dogmas. É uma doutrina extremamente educativa, mas tem em sua base a religião, aliás, Allan Kardec, na revista espírita de 1868, precisamente no mês de dezembro, faz um texto belíssimo sobre religião, a começar pela etimologia da palavra: religião vem do latim religiare, que é se religar a Deus. Então qualquer filosofia que tende a se aproximar de Deus, tem em suas bases uma religião.


2) Sobre a história do Espiritismo, qual é a sua origem?

Dallesandro: O Espiritismo surgiu nos EUA pelos fenômenos mediúnicos em Hindisville, de acordo com as jovens chamadas Fox: elas começaram a escutar batidas em várias partes de sua casa, até que fizeram perguntas e as repostas vinham em tom de batidas. Mais tarde se espalhou para o mundo todo, centrando a sua visão, principalmente na Europa, quando Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec era seu pseudônimo para diferenciar seus livros didáticos dos livros Espíritas) é convidado, precisamente no ano de 1855, pelo seu colega Fortie a ver os fenômenos mediúnicos em Paris, que seriam as mesas girantes. Então, Allan Kardec começa a fazer as seguintes reflexões, já que ele tinha em sua base filosófica a ciência: se para todo efeito existe uma causa, um efeito inteligente tem origem uma causa inteligente. Como uma mesa, que não é constituída de células e nervos, pode dar respostas inteligentes? E foi aí que ele pesquisou e vieram todas as informações dos espíritos superiores. Mais tarde, ao fundar a Sociedade de Estudos Parisienses, no ano de 1858, exatamente no dia 1º de abril, ele vai receber de várias partes do mundo, psicografias, mostrando para todos nós, que sempre houve, perante a humanidade, um conceito de mediunidade: a intervenção do mundo espiritual perante a gente, a gente perante o mundo espiritual. É só ler a Bíblia que vamos encontrar vários fenômenos mediúnicos, tais como os sonhos, onde vai aparecer o anjo Gabriel para Maria enunciando a vinda de Jesus, e outras passagens belíssimas. Então, a faculdade mediúnica em si, desde que o ser humano existe como ser encarnado, sempre existiu.


3) Então Allan Kardec não é fundador, é codificador?

Dallessandro: Por isso que ele é codificador, exatamente. É você pegar informações e somar todas as informações numa base filosófica. Daí a palavra codificador, e não fundador. Por isso que ele coloca Doutrina dos Espíritos, estando errado quando algumas pessoas falam Kardecismo. Etimologicamente falando seria a Doutrina de Kardec, e Kardec não criou Doutrina nenhuma. Então estão errados os termos Kardecismo e Kardecista. O correto são os termos Espiritismo e aquele que segue o Espiritismo serão o espiritista ou espírita.


4) Qual é a fundamentação do Espiritismo?

Dallessandro: No geral o Espiritismo acredita em leis, leis demonstrando sabedoria e misericórdia. Então, por exemplo, acredita num Deus único. Quais seriam os atributos de Deus no nível de evolução que estamos e que podemos entender? Deus seria onipotente, oni do grego, todo poderoso. Deus seria misericordioso e bondoso, e isso o Espiritismo consegue justificar pelo conceito de livre-arbítrio, pluralidade das existências, enquanto outras doutrinas espiritualistas que acreditam num Deus único não conseguem demonstrar, filosoficamente falando, porque esse Deus é de misericórdia e bondade, pois acreditam em uma só existência. Ora, como Deus pode ser bondoso e misericordioso para todos os seus filhos se só há uma existência? Então estarei fardado a ficar eternamente, por exemplo, no inferno, como alguns irmãos acreditam porque se baseiam nas palavras que os olhos de Deus estão em toda parte. Bom, se os olhos de Deus estão em toda parte, estariam no inferno. Estando no inferno, ele não teria misericórdia perante seus filhos, que vêm em sofrimento? Então a Doutrina Espírita justifica um dos atributos de Deus, que é misericórdia e bondade, e tem outros, que estão contidos no Livro dos Espíritos, na pergunta número 13: onipotência, Deus é único, imaterial, ou seja, Deus não tem uma forma - não há nenhuma doutrina antropomórfica, Deus em forma de homem.








5) O Espiritismo aceita outras religiões?

Dallessandro: Allan Kardec deixa bastante claro, não só no Livro dos Espíritos, ao perguntar aos espíritos superiores, mas depois no Evangelho segundo o Espiritismo, no capitulo 13, quando ele vai salientar se era lícito nós ajudarmos aquelas pessoas que não pensam como nós, e a resposta dos espíritos superiores foi que sim. Aquele que é espírita, ou seja, aquele que é cristão vê irmãos em toda a parte. Então em nenhum momento o Espiritismo fala mal das outras religiões, porque o Espiritismo segue as orientações de Jesus, e o maior mandamento deixado por Jesus, quando ele foi tentado pelos fariseus, foi: “Amarás a Deus de coração à alma e entendimento e a teu próximo como a ti mesmo”.






6) Há no Catolicismo o ritual de batismo, 1ª Comunhão, entre outros. Há também uma hierarquia entre o Papa, bispo, padres, etc. Quais são a hierarquia existente e os rituais espíritas?

Dallessandro: O Espiritismo é destituído de rituais e hierarquias. Na pergunta 115 do Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se os espíritos seriam criados maus. A resposta: não. Deus criou todos os seus filhos ou filhas simples e ignorantes, dando a eles as mesmas chances, e através do livre-arbítrio, ele vai pelo caminho do bem ou pelo caminho do mal.


7) Por que os espíritas não estudam a Bíblia?

Dallessandro: Pelo contrário. O Espiritismo tem embasado as suas propostas, a sua Doutrina, os seus fundamentos, nas passagens de Jesus que se encontra na Bíblia. A Bíblia, etimologicamente falando significa livros, e lá há vários livros que se encontram no velho testamento, e os livros do novo testamento, que são os evangelistas pelas palavras de Jesus. Então, a Doutrina dos espíritos não só segue o que tem muita coisa já escrita no velho testamento, mas principalmente as coisas escritas, deixadas por Jesus. Então nós seguimos a Bíblia.









8) Qual a visão do Espiritismo nos seguintes temas:

- Métodos anticoncepcionais?

Dallessandro: A Doutrina Espírita é a favor de qualquer coisa que a ciência possa colaborar não só na sustentação da vida, mas como na prolongação da vida. Então, na década de 70, perguntaram a Francisco Candido Xavier sobre as pílulas anticoncepcionais, porque estavam surgindo no mundo, no aspecto cientifico, e ele deixa bastante claro que se assim o ser humano pode utilizar para a própria manutenção da sua vida, no caso as mulheres, nada mais coerente em usar. A nosso ver, que não somos médicos, quando a gente dá a ênfase à pílula anticoncepcional jogamos toda a informação para a mulher. Então como vivemos numa sociedade machista, como a brasileira, deveria ter também a pílula anticoncepcional dos homens, aí haveria um equilíbrio, já que os direitos devem ser iguais. Então quando só jogamos para a mulher, fica a imagem de que só a mulher deve zelar pelo seu corpo físico, ou seja, zelar também para vir um espírito, e não. A gente sabe que é um trabalho de dupla, os dois são importantes, tanto o pai quanto a mãe.


- E no caso do aborto, também cabe aos dois?

Dallessandro: Sim, pela doutrina dos espíritos, como a vida é criada por Deus, nós não temos o direito nem de tirarmos a nossa vida, muito menos tirar a do próximo. No caso do aborto, fica implícito à mãe no caso, que está colhendo no seu útero, que é a câmera de materialização do espírito, a atitude de ir contra a vida que não é dela. Então, por isso que a doutrina dos espíritos no quesito aborto, vai elucidar que somente em casos, Allan Kardec deixa claro isso no Livro dos Espíritos, que entre a mãe e a criança é preferível zelar pela mãe, porque a mãe terá como fonte, que seria o útero, a oportunidade daquele mesmo espírito vir e reencarnar. Então, no período de Kardec, século XIX, já havia um grande avanço científico, uma visão bem abrangente.





- Divórcio?

Dallessandro: Está no Evangelho segundo o Espiritismo, publicado em 1864, a questão do divórcio e Allan Kardec já deixa claro que se as pessoas que estão envolvidas num relacionamento não podem dar mais continuidade, é preferível que permaneçam amigas com cada uma seguindo seu percurso, do que manterem-se unidas com um relacionamento ruim. Então, a Doutrina deixa claro que o divórcio é natural, já que antes de chegar o divórcio, já tentaram várias vezes dialogar e não chegaram a um consenso.


- Com esses debates sobre células-tronco, queríamos saber quando começa a vida.

Dallessandro: Isso Kardec já pergunta no Livro dos Espíritos, não me recordo qual é a questão, se é a 393 e a resposta dos Espíritos da Verdade foi que na concepção já haveria ali uma ligação entre o espírito e o embrião. Então quando a gente enxerga um embriãozinho, embora seja minúsculo, tenha que usar um microscópio, há ali um espírito, que aos olhos humanos não se consegue ver. Então seria nessa visão que a gente já poderia defender a vida. A vida existe antes de ter o corpo físico.


- E sobre a eutanásia?

Dallessandro: Kardec também, no Evangelho segundo o Espiritismo, faz uma pergunta se era louvável nós abreviarmos a vida de uma pessoa que está, vamos dizer, num estado deplorável. E deixa claro os benfeitores espirituais que Deus é que sabe de suas leis. Ou seja, quem garante que em momentos próximos àquilo que a gente chamaria de morte, não voltaria o espírito em ação? Então há casos na literatura mundial de várias pessoas que ficaram em coma por mais de 10, 20 anos e retornaram à vida. Somente no plano espiritual que conseguimos ver a história daquele espírito que está encarnado, e que nós saberíamos responder por que ele está passando por aquilo, que as nossos olhos materiais, a gente chama de um processo vegetativo. Mas a alma existe, então a vida espiritual é mais abrangente. Assim como nós dormimos, embora as vezes não lembramos o que fizemos no sono, há espíritos que conseguem ir a colônias espirituais, escutar palestras, outros conseguem ir para centros de pesquisa. Grandes inventores, em pontos distantes do planeta Terra, inventaram coisas ao mesmo tempo, mas antes deles inventarem eles já trocavam experiências no mundo espiritual. É aquilo que Kardec deixa bem caracterizado no começo do Livro dos Espíritos que o mundo primitivo e verdadeiro é o mundo espiritual, e o mundo transitório e secundário é o mundo físico. E é esse sentimento que, nós os espíritas, devemos desenvolver. Estamos de passagem. Não somos do mundo, estamos no mundo.





- Suicídio?

Dallessandro: Suicídio está implícito você tirar a sua vida. Como a vida não é sua, você foi criado por Deus, ele te deu uma vida que começa lá atrás, você como princípio inteligente. Vai se desenvolvendo até você chegar ao grau de Espíritos Puros. Uma melhor visualização disso é a questão 100 do Livro dos Espíritos, onde Kardec coloca a categoria dos Espíritos. Então no caso do suicídio, eu estou tirando a minha vida orgânica, não a minha vida espiritual. Ora, se não fui eu que criei essa vida orgânica, foram as próprias leis materiais que se encontram no planeta na qual estamos encarnados, por que eu iria tirar algo que não é meu? Então suicídio é uma transgressão às leis divinas porque eu estaria desprezando uma oportunidade de aperfeiçoar, não só o lado intelectual, mas aperfeiçoar o lado moral. É a finalidade de reencarnarmos.

- É verdade que suicidas vão para o Umbral?

Dallessandro: Então, o que eles chamam de umbral? Allan Kardec entrevista vários espíritos, que está implícito na obra Céu e Inferno, belíssima obra, é a 4ª obra da codificação, publicada em 1865. Foram espíritos, por exemplo, que se suicidaram, espíritos que levaram a vida a sério, ou seja, praticando as leis divinas, de amar o próximo como a si mesmo e a Deus, sobre o maior mandamento, e o interessante ressaltar que umbral vem do grego e significa sombra. Então toda pessoa que como encarnado foge às leis divinas já estaria no umbral. E ao se despojar do corpo físico, ele iria para um ambiente a qual ele já habitou como encarnado. Então aquele que, por exemplo, só pensava em roubar, ao desencanar vai ficar com pessoas que só pensam em roubar, e assim sucessivamente. Então o ato de desencarnar, que nada mais é do que o ato de sonhar - daí frase famosa: “ao sonhar ou dormimos nós estamos morrendo todos os dias” é verdadeira, porque no sono a gente vai para os lugares que nos favorece, que a gente gosta já como encarnado.







9) Há também muita curiosidade sobre mediunidade. Você poderia definir mediunidade?

Dallessandro:
A mediunidade, o ideal será ler o Livro dos Médiuns, o 2º livro da codificação dos espíritos, publicado em 1861, a 1ª obra científica da doutrina. No Livro dos Médiuns, Kardec deixa claro que como somos espíritos imortais, a comunicação dos espíritos é através do pensamento. Então mediunidade seria isso: eu unir meu pensamento ao pensamento de outro espírito, somar pensamentos. A pessoa que pensa bem vai atrair espíritos bons, ou seja, vai ser médium de coisas belíssimas. Uma pessoa que pensa de maneira equivocada, vai atrair a mesma coisa: espíritos que pensam de maneira equivocada. Então vai ser médium de coisas extremamente equivocadas.



10) E todos podem ser médiuns?

Dallessandro: Todo mundo é médium, na realidade. Varia o grau. Uns são voltados para a intuição, outros à inspiração, outros à psicografia. Isso seria um trabalho da pessoa educar a mediunidade. Todo mundo ao nascer, ou melhor, todo mundo na condição de encarnado ou desencarnado é médium. Nós da espiritualidade somos médiuns, uns dos outros, mas vai depender da afinidade. Um espírito só se comunica através de um médium se o médium em questão lhe apetece, lhe atrai. Vou usar o exemplo de Chico Xavier, quem eram os espíritos que vinham através de Chico? A característica do médium em questão. Uma pessoa extremamente religiosa, voltada às coisas do bem, ele não atraía para si pessoas perturbadas, o que não quer dizer que o médium não possa dar oportunidade a um espírito, por exemplo, que se arrependeu, dar um depoimento. Isso existe nas casas espíritas, no trabalho chamado desobsessão. Médium psicofônicos que dão a oportunidade daquele que se arrependeu narrar para os membros. Seria como eles desabafarem. Então, o espírito se aproxima do médium e dá seu depoimento. Mas não quer dizer que o espírito encarnado, ou seja, o médium vai ter os pensamentos de maldade que o espírito esteja transmitindo.
Então a mediunidade seria isso: junção de pensamentos, que é algo que até hoje a ciência está atrás. Recentemente, setembro de 2007, um neurologista canadense publicou um livro, intitulado “Cérebro Espiritual”, onde ele faz um apanhado:
a mente não se encontra no cérebro. Algo que a doutrina já fala desde 1868 na obra A Gênese. O pensamento e a vontade são para o espírito, o que as mãos são para o corpo físico. Então pensamento é um atributo de espírito, não é do cérebro. O cérebro está para o espírito, assim como um computador para uma pessoa a frente de um computador. Eu preciso digitar, teclar, para que o computador faça suas funções. Então o computador seria o cérebro, a pessoa que está na frente é o espírito imortal, ou seja, o pensamento é meu, o pensamento não é do corpo físico, como infelizmente alguns cientistas materialistas defendem, que seria uma produção, uma secreção das glândulas.



11) Sobre a Justiça Divina, por que uma pessoa nasce na Etiópia e a outra nasce em uma família com muito dinheiro?

Dallessandro: Acontece, Kardec já vai tratar esse tema no Livro dos Espíritos, e mais tarde vai ampliar um pouco o tema no Evangelho segundo o Espiritismo. É um capítulo belíssimo onde ele vai dizer que na riqueza a gente tem a oportunidade de desenvolver a caridade material e a abnegação, enquanto que na pobreza a gente teria que desenvolver a paciência e a resignação – são duas experiências diferentes. Então não quer dizer que Deus está punindo, porque na Doutrina Espírita não existe punição, não existe proibição. O que acontece é: a experiência da pobreza e da riqueza desenvolve sentimentos, que é diferente de instintos. Sentimento é quando eu educo os meus instintos. Então as duas experiências vão me trazer ensinamentos educativos de sentimentos até o momento em que, como espírito puro, eu vou conseguir unir todos os sentimentos. Essa questão, aos olhos da pessoa extremamente materialista, Deus seria injusto, porque aquele está passando fome enquanto aquele está desprezando a comida. Mas pela ótica da Doutrina dos Espíritos, a pessoa nasce rica para desempenhar tarefas, o que não quer dizer, por exemplo, que ele também tenha que desprezar seus bens, pelo contrário. Ele tem que ajudar quem está ao redor. Então se ele gasta mal o seu dinheiro, ele vai responder por isso. Porque ele momentaneamente está rico, na condição financeira. Assim como autoridade. A doutrina espírita vai dizer: aquele que hoje está como superior, um dia foi inferior, ou amanhã será inferior. Então não existe, diante da Doutrina Espírita, o melhor. Todas as experiências são boas, até a gente chegar ao grau de espíritos puros. É necessário, no patamar que nos encontramos de evolução, passarmos pela pobreza e pela riqueza, porque vai desempenhar virtudes dentro de nós. O que não quer dizer que, já num mundo de regeneração, ou depois num mundo de gozo, porque pela escala espírita o planeta Terra está num mundo de provas e expiações - segunda categoria-, lá exista riqueza ou pobreza. Pode ser que não, assim como nas colônias espirituais, André Luiz deixa bastante claro, na belíssima obra sua, Nosso Lar, que lá não existe riqueza nem pobreza, na colônia em cima do Rio de Janeiro, Nosso Lar. Existe lá a pessoa que trabalha e ela converte aquele trabalho em bônus horas, que ela pode aplicar em estudos, confraternizações, e outras atividades. Então, ainda nos encontramos num patamar de evolução que precisamos passar, infelizmente, pela pobreza e pela riqueza. Agora o difícil não é passar, e sim aproveitar a oportunidade que Deus nos dá, que às vezes mergulhados na matéria, ficamos invigilantes. Então na condição de pobre, que às vezes a gente pediu para ser, ficamos revoltados, ou na condição de rico, desprezamos aqueles que estão ao nosso redor. Palavra afetuosa de Jesus: vigiai e orai que não entreis em tentações. O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Antes de encarnar a gente pediu essa missão, mas quando está encarnado, ou seja, quando está na carne, a gente segue as tendências da moda, ou as tendências dos outros, perdendo a nossa individualidade, falhando na prova.


12) Outro tema curioso é a diferença entre possessão e obsessão.

Dallessandro: Obsessão, tema que se encontra no Livro dos Médiuns, vem de obsediare, tem uma idéia fixa em algo. Então há vários tipos de obsessão: de espírito encarnado para espírito encarnado, de um espírito encarnado para um espírito desencarnado, de um espírito desencarnado para um espírito encarnado, de um espírito desencarnado para outro espírito desencarnado, e atualmente, muito comum para nós, os que estamos encarnados, a auto-obsessão. Então Kardec deixa caracterizado que, o único procedimento capaz de você se livrar de uma obsessão quando você está se prejudicando, ou quando você está prejudicando o outro, ou um outro está lhe prejudicando, é através das ações enobrecedoras. Uma pessoa que segue as leis divinas, por conseqüência, está sempre alegre, vigilante, então não sofre o assédio de espíritos que se encontram, momentaneamente, na faixa da inveja, do orgulho, do egoísmo, da sensualidade, e outros sentimentos não pouco enobrecedores. Então, exorcismo na doutrina não existe, porque Kardec vai perguntar no Livro dos Espíritos sobre rituais, a questão de talismãs, a questão das orações pagas, e os espíritos superiores deixam bastante claro que o que faz com que os espíritos se afastem, os espíritos que vêm nos perturbar, são as nossas atitudes do bem. Quanto mais benévolos nós formos perante os outros, ou seja, praticando as leis divinas, estaríamos educando-os através do exemplo. Então a pessoa que sofre um assédio, a obsessão, que é natural no planeta que nos encontramos, nos mostra que ela não está vigilante, não está levando a sério a sua religiosidade. Então você pode ser um católico e não sofrer os assédios da obsessão, um evangélico, um budista, assim como você pode ser um espírita e ser extremamente obsediado. Uma coisa é a teoria, a outra é a prática. Ao receber a teoria, com o livre-arbítrio, a gente transforma a informação em formação para o nosso espírito. Então é preferível que você seja um bom cidadão do que um péssimo religioso. Às vezes as pessoas falam que não existe salvação fora do Espiritismo. Lógico que existe! Kardec deixou bastante claro, “fora da caridade não há salvação”. O que seria caridade, pergunta 886, do Livro dos Espíritos: benevolência para com todos. Benevolência vem da palavra benevolere, ou seja, eu emitir a bondade a todo mundo, não só para meus familiares e amigos, é para todos. Continua o Espírito da Verdade: indulgência para com as imperfeições alheias. Indulgência vem do latim: in = dentro; dulcere = doce. Uma pessoa indulgente é aquela pessoa que é doce por dentro. Se ela é doce por dentro, ela vai ser doce ao falar com as pessoas, ela fala doce, tem um olhar doce, e termina ele: perdão das ofensas. Perdoar, ir além de. Caridade é isso. Uma pessoa caridosa, evidentemente, jamais será obsediada.


13) Mas possessão existe?

Dallessandro: A própria física explica isso: não pode ter dois objetos ocupando um espaço só.




14) Conheço pessoas que não têm o hábito de orar e dizem que isso não faz falta. Elas estão certas?

Dallessandro: Estão bastante equivocadas. Aliás, se essas pessoas gostam das visões científicas, já estão comprovados cientificamente os benefícios da oração. Em várias experiências médicas nós temos aqui, não sei de cor, mas posso trazer pesquisas feitas pelo menos nas universidades brasileiras que ficou comprovado que no grupo de pessoas que tiveram a mesma doença no hospital, aquelas que faziam oração, saíram mais rápido do hospital do que aquelas que não faziam. Uma pessoa que faz prece é uma pessoa extremamente vinculada às leis universais, por conseqüência tem mais chance de retornar ao mundo espiritual e dialogar com outros espíritos. Na literatura espírita, na revista espírita, no próprio Céu e Inferno há relatos disso e mais tarde o dedicado apóstolo do Espiritismo, Francisco Candido Xavier, através das obras cuja representação está no cavalheiro André Luiz nos mostra detalhes fantásticos do mundo espiritual, muitos trabalhadores, até encarnados ajudando os benfeitores que estão desencarnados.





15) Mas Deus consegue ouvir as preces de todos?

Dallessandro: Pela ótica da doutrina dos Espíritos, primeiro há um fluido que permeia todos nós, o fluido cósmico universal, então é esse fluido que leva nossos pensamentos. Fazendo uma analogia seria o som e a fala. Ao falarmos o som é levado para a outra pessoa que está ouvindo. No plano Espiritual seria o fluido cósmico universal: eu penso e Deus já captou. Aliás, na doutrina dos Espíritos quem quiser maiores informações com que diz respeito à prece, é só ler o livro “Cartas de uma Morta”, pela editora Lake. É sobre a mãe de Francisco Candido Xavier, onde sua primeira missão na espiritualidade era essa: anotar as preces das pessoas que estavam pedindo solicitações para os benfeitores espirituais. Então ela via fachos de luz passar por ela, ou seja, espíritos superiores a ela é que recebiam a mensagem.
Agora uma pessoa que se recusa a orar é aquela pessoa que, por exemplo, se recusa a tomar sol: um dia fica doente.


15) Se você tivesse que fazer uma escolha entre praticar a caridade e estudar o Espiritismo, qual seria?

Dallessandro: Os dois. Porque seria o mesmo que eu perguntar qual das suas pernas é a melhor, você pode responder: a direita. Então posso cortar a esquerda? Então o ato de andar pressupõe isso, você precisa de uma para a sustentação para a outra se erguer e ir para frente. Então na doutrina dos Espíritos, tanto o estudo quanto a caridade são importantíssimos, porque através do estudo você vai saber como ajudar o outro. Porque só com a caridade, sem o estudo, em vez de ajudar você pode cair num sentimentalismo doentio. Você querer resolver, por exemplo, o problema da pessoa, aquela dor, e é necessário ele passar por aquela dor para ele ganhar conhecimento, ganhar maturidade. Por exemplo, um desapontamento: a própria palavra está dizendo “apontar”, então eu tenho uma meta. Quando eu saio dessa meta, ou seja, um desapontamento, eu estou mudando de caminho. Então quando eu tenho um desapontamento com uma pessoa ou um grupo de pessoas eu estou ganhando maturidade para minha alma, pois até aquele momento eu tinha aquela visão, a partir daquele momento eu aprendi, “olha não era bem assim”. Meu ídolo não era aquilo que eu achava que era, é um ser humano como eu que está na estrada da evolução burilando, trabalhando, melhorando-se e eu que infelizmente coloquei muita coisa nos ombros dele.
Então na questão, o estudar é tão importante como o agir. Tanto é que na introdução do Livro dos Espíritos vai dizer isso no item 6, a perseverança e a dedicação. O espírita que não é perseverante e que não se dedica aos estudos corre o risco não só de se machucar, mas principalmente machucar quem está ao redor dele.


16) E para terminar, o que faz o Espiritismo para melhorar a sociedade em que vivemos?

Dallessandro: O Espiritismo, o que faz primeiro, é nos melhorar. Como é uma doutrina totalmente educativa, nos mostra a educação da alma. Eu melhorando colaboro na sociedade em que me encontro. Então a proposta do Espiritismo é primeiro a pessoa se melhorar. Ao você melhorar, ajudar aqueles que, momentaneamente, às vezes não perceberam a grandiosidade da vida, as belezas do universo, estão às vezes confusas mergulhados num mundo materialista.
A grande colaboração de qualquer doutrina espiritualista, a católica, evangélica, a budista, está implícito todas estas que acreditam na alma, seria isso, transcender um material. Dentro das espiritualistas há o Espiritismo, que as propostas são várias: um Deus único, um Deus de misericórdia e bondade, a boa utilização do livre-arbítrio, estamos sempre com a oportunidade de melhorar, corrigir, não precisamos desencarnar para mudar, nem estamos fardados ao mal, à eternidade. Então eu melhorando, eu melhoro o que está ao meu redor. Pelos exemplos, como fez Jesus, deixou bastante claro na sua mensagem, afinal de que seremos reconhecidos seus discípulos, se amarmos uns aos outros, como ele nos amou. Então
amou sem exigir. Esse é um grande papel do Espiritismo.


17) Aqui no Centro Ismênia de Jesus há uma creche e principalmente um trabalho com moradores de rua – vocês dão almoço todos os dias, roupas e ajuda espiritual, um exemplo de melhoramento da sociedade.

Dallessandro: Para as necessidades de um país como o nosso, em desenvolvimento, sim. Não que em outros países não necessite, porque como deixou claro no Livro dos Espíritos, na questão 886 sobre caridade, é um conceito bem abrangente mais voltado à alma do que o corpo. Como vivemos num país em desenvolvimento, qual é a 1ª necessidade? As necessidades básicas: alimentação, vestuário. Então no Ismênia de Jesus, que Maria Máximo fundou em 1937, principalmente o departamento que dá a palavra amiga, para esses irmãos que momentaneamente se encontram desabrigados, dá vestuário, dá alimentação, mas o melhor que dá é o carinho, o amor, a palavra de Jesus, através do Evangelho segundo o Espiritismo, porque sabe que a pessoa está momentaneamente desabrigada. Que cabe acolhe-la e dar informações para que ela saia daquela situação. Então a caridade maior seria essa instrução. O centro espírita é uma escola da alma, todos nós estamos na condição de aprendizes, cujo exemplo é Jesus.
Se nos encontramos num país em desenvolvimento, devemos olhar ao nosso redor e fazer algo para mudar esse quadro momentaneamente desagradável que se encontra, diante a história do próprio país em questão e no Brasil a gente sabe como um país que ainda há muita concentração de renda, muitas dificuldades, e aquilo que a gente vê, pessoas momentaneamente desabrigadas.







Para quem tiver curiosidade, quiser colaborar ou fazer parte do estudo do Espiritismo, o site do Centro Espírita Ismênia de Jesus é o seguinte: www.ismeniadejesus.org.br.

2 comentários:

Profª Andréa Valente disse...

Adorei a entrevista do meu querido amigo Dallessandro, de quem tenho muitas saudades...

Anônimo disse...

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